[Resenha] Daniel,Daniel,Daniel

Título: Daniel, Daniel, Daniel
Autor: Wesley King
Editora: Rocco Jovens Leitores
Páginas: 280
Ano: 2019
Adicione ao Skoob
*Cortesia da editora

Sinopse: Daniel é o reserva do time de futebol da escola, e isso significa que ele é basicamente o garoto da água. Ele gasta todo o tempo dos treinos arrumando e organizando os copos para seu time – e rezando para que ninguém perceba. Na verdade, Daniel passa a maior parte do tempo esperando que ninguém note seus hábitos estranhos – ele os chama de Choques. Eles incluem ter uma lista de números "ruins" e evitar escrevê-los, por exemplo, ou ligar e desligar o interruptor dezenas de vezes até se sentir bem de novo.
Daniel acha que é maluco e esconde essa impressão sobre si mesmo, principalmente de seus pais, seu melhor amigo Max e Raya, a garota por quem é secretamente apaixonado.
Sua vida fica ainda mais estranha quando ele recebe um bilhete misterioso com um pedido de ajuda assinado pela "Colega das Crianças das Estrelas", seja lá o que isso significa. E de repente, Daniel, que era um zé-ninguém na escola, se vê dentro da investigação de um grande mistério.
Este livro é sobre se sentir diferente e deslocado e encontrar aquelas pessoas que conseguem enxergar e entender você de verdade.

Resenha

Daniel é um menino e treze anos que acredita não ser normal e se empenha para que ninguém perceba. Ele aguenta tudo sozinho, chora, sofre. Mas não pode contar às outras pessoas que é diferente porque vão achá-lo ainda mais esquisito. Nem mesmo os seus pais ou os seus irmãos sabem. Mas a verdade é que Daniel sofre de um transtorno que nem mesmo ele sabe o que é. Ele tem Transtorno Obsessivo Compulsivo.

A vida na escola já é difícil para quase todo mundo, mas para Daniel é ainda mais. Ele só tem um amigo e os demais alunos só falam com ele por causa do seu amigo Max que é jogador do time de futebol e é bastante popular. Daniel também está no time, ele é reserva, e faz isso não por gostar de jogar, mas para impressionar seu pai. Daniel é apaixonado por Raya e quando surge um trabalho em grupo e eles caem no mesmo grupo ele começa a se aproximar mais dela, mas ainda sem coragem de revelar seus sentimentos.

Todas as noites, Daniel só consegue dormir depois de um longo ritual que incluiu contar os passos até o banheiro, escovar os dentes repetidamente, acender e apagar a luz do quarto e mais alguns outros. É um processo demorado e se por acaso ele errar uma das etapas ou não estiver totalmente satisfeito é preciso voltar e fazer tudo desde o começo, o que gera um enorme cansaço e muitos choros. Há algo dentro dele que não o deixa parar, é forte, é desesperador. A sensação é de que ele vai morrer se não fizer certinho.

E isso é só o ritual de antes de dormir, durante o dia há muitos outros e algumas crises pesadas (ele as chama de Choques) que ele tenta a todo custo impedir que alguém perceba. Seja escrever um número que ele não acha bom e isso o deixa nervoso e tem que fazer alguma coisa para mudar a situação; ou pisar em um local que não deveria ou pisar e pisar e pisar quantas vezes forem necessárias; talvez mexer a tigela de biscoitos para um lado ou para o outro até que esteja certo; não importa o que é, mas Daniel só consegue se acalmar depois de conseguir fazer aquilo exatamente da maneira como sente que precisa, se não fizer, a sensação ruim toma conta dele de uma maneira intensa e angustiante.

“É engraçado ser um prisioneiro de si mesmo. É como ser intimidado por sua própria mente e ter medo dela, porém ao mesmo tempo saber que é você, o que é extremamente confuso. Escovei por mais vinte minutos, e, quando terminei, minhas gengivas estavam sangrando de novo.”

Na tentativa de distrair a mente, Daniel começou a escrever um livro e – mesmo inconscientemente – o seu protagonista tem muito de si e a trama é como uma analogia de sua própria vida. Fora do livro, Daniel se sente muito sozinho, não pode contar a ninguém sobre as coisas que acontecem com ele, mas então isso muda no instante em que ele recebe um bilhete assinado por uma “Colega das Crianças das Estrelas”.  O pai dessa pessoa foi assassinado e ela precisa de ajuda para desvendar o crime, a polícia não acredita nela e a mãe é suspeita de ser cúmplice, o assassino é o namorado da mãe.

Daniel demorou um tempinho para descobrir quem é a pessoa, mas depois tudo fez sentido. A Criança das Estrelas é uma menina que sofre com depressão, transtorno de ansiedade generalizada, esquizofrenia moderada, transtorno bipolar e toma um monte de remédios. Daniel e a nova amiga começam a fazer algumas investigações e o que eles descobrem vai além do que poderiam imaginar. Daniel continua se esforçando para que ninguém – nem ela – descubra que ele é diferente, mas a amiga também é, eles podem ser diferentes juntos e quando estão na companhia um do outro se sentem normais.

Minha impressão

Daniel, Daniel, Daniel é uma obra que mostra com intensidade a realidade de quem sofre com TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), através do protagonista nós vemos o cotidiano de uma pessoa com esse transtorno e o autor nos traz um personagem  de treze anos que não faz ideia do que tem, Daniel acha que não é normal e tenta se esconder das pessoas.

É angustiante acompanhar os relatos de Daniel, ele não sabe o que está acontecendo com ele e tem medo da reação das pessoas se ele contar. Os rituais, as crises, tudo é muito estranho para ele, mas é uma necessidade, se não fizer ele é tomado por sensações e pensamentos ruins, é como se a sua vida dependesse de fazer as coisas repetidamente até que fique satisfeito com elas, seja a posição de algo, a quantidade de vezes, o número de passos, o quanto lava as mãos ou escova os dentes, se pisa em uma rachadura e tem de pisar fora dela e depois pisar nela novamente, um número ruim que precisa transformar em um número bom... são muitas coisas e as crises acontecem com frequência.

O autor descobriu o TOC na adolescência e também sofreu em silêncio, só foi procurar ajuda com mais de vinte anos e escrever o livro Daniel, Daniel, Daniel é um meio de ajudar outras pessoas que passam pelo mesmo e se sentem sozinhas.  Além do TOC, também vemos um pouco sobre a depressão e como é uma doença perigosa que precisa de atenção.

Eu gostei muito, também, de o autor ter introduzido um mistério na trama ao colocar Daniel e uma nova amiga investigando o possível assassinato do pai dela, eles descobrem algo que os surpreende quando a verdade é exposta.

Este é um livro que desconstrói mitos sobre o TOC e traz mensagens importantes de conscientização, é uma obra que pode incentivar muitas pessoas que sofrem com o transtorno a procurarem ajuda médica e ver que não estão sozinhas. No Brasil, A Associação Solidária do TOC e Síndrome de Tourette auxilia de maneira gratuita as pessoas que buscam ajuda, para mais informações acesso o site: https://www.astocst.com.br

Minha nota para o livro