[Resenha] No Fundo do Oceano, Os Animais Invisíveis

14 de setembro de 2021

 

Título: No fundo do Oceano, Os Animais Invisíveis
Autor: Anita Deak
Editora: Reformatório
Páginas: 191
Ano: 2020
*Cortesia da agência Oasys Cultural
Sinopse: No fundo do oceano, os animais invisíveis apresenta, na natureza do texto, o movimento da água em remansos, quedas e correntezas. Não se trata de mais uma escritora que repete “fórmulas” de sucesso. Anita Deak as conhece bem, as recentes e as clássicas, extrai delas o que contêm de resina valiosa e as reformula num conjunto original, enriquecido por escolhas rigorosas sobre o que quer mostrar e esconder. Vê-se, já às primeiras páginas, que a autora conhece muito e assimilou verdadeiramente as lições de mestres pioneiros como Guimarães Rosa e Manoel de Barros (para citar apenas os mais emblemáticos), mas não os copia. Recria. Não se trata de leitura fácil. Exige do leitor uma parceria competente, capaz de mergulhar fundo e resistir ao afogamento “no fundo do oceano”, percorrido pelo narrador-personagem, Pedro Naves, sempre em agonia. Ele nos convida a percorrer a fronteira fluida entre sua memória e imaginação, entre a percepção objetiva e o sonho.
Anita Deak narra não a partir de um “realismo”, que parece voltar com força em parte da literatura recente, mas a partir de uma construção densa, onírica, complexa e não linear. Neste romance, aliás, encontra-se um tema de suma importância: a reintegração do humano à natureza. O húmus da natureza fertiliza as páginas do texto visceral da autora. Cabe reconhecer a seriedade com que pesquisou dados objetivos para reinterpretar fatos da nossa história recente e a nebulosidade em que permanecem pelo fato de que nenhuma narrativa é isenta de escolhas, posições políticas e heranças culturais naturalizadas. Narrar e re-narrar os meandros da vida humana é certamente uma missão fundamental da literatura. Aliás, nesse narrar, a autora arrisca-se pessoalmente, ainda que bem ancorada no narrador-personagem. É um romance que recupera um vocabulário rico, indispensável nos dias de hoje em que nos encontramos diante do fenômeno do “encurtamento” da nossa língua. "No fundo do oceano, os animais invisíveis" parece-me fadado a ser leitura frequente nos cursos de Letras, quando se tratar de analisar as características da literatura brasileira nas duas primeiras décadas do século XXI.

Resenha
“Não há outro caminho para o povo senão combater os opressores.”
Em Ordem e Progresso, moram Pedro e sua família. Quando criança, o jovem menino não imaginava que ao crescer se envolveria com questões políticas, que precisaria escolher um lado para batalhar e que faria parte da História do país. Enquanto via sua infância e adolescência passarem, Pedro tinha uns sonhos estranhos, às vezes até proféticos, mas que ele não entendia muito bem no começo. Já na vida adulta, Pedro precisa deixar de lado suas próprias vontades em prol de um bem maior.
Sempre muito estudioso, Pedro cresceu e foi para a cidade grande para poder se dedicar aos estudos e as coisas começam a mudar, é lá que ele conhece Sara e seu pai, Seu Altino, um senhor que possui livros escondidos e diz que Pedro e Sara ainda não podem ter acesso a eles. Tais livros possuem mensagens arriscadas, são proibidos pela Ditadura. Algum tempo depois, Pedro e Sara começam a se envolver mais com os assuntos de Seu Altino e logo se veem lutando com a resistência.
“Um trecho mal compreendido corrompe a narrativa”
Pedro se envolve cada vez mais com a causa e está mais ativo nas reuniões, até que chega o momento em que é necessário assumir uma identidade falsa e levar uma vida dupla para não levantar suspeitas. Ele e Sara ganham novos nomes, novas vidas, não podem nunca revelar a verdade para ninguém e precisam priorizar sua missão.

O país está vivendo tempos sombrios, grupos de resistência como o que Pedro frequenta são necessários, a crueldade dos militares assusta, mas não os para. Ainda que seja preciso sacrificar suas próprias vidas. Ainda que alguns precisem cair para que outros possam se levantar.
Minha impressão
“No fundo do oceano, os animais invisíveis” possui um contexto histórico que nos leva à Amazônia durante o período da ditadura. Acompanhamos a história de Pedro, vemos como ele saiu de uma cidade pequena para a cidade grande e se envolveu com um movimento guerrilheiro para combater a ditadura.

Tive uma grande dificuldade com a leitura por alguns motivos que vou explicar, ainda assim, minha experiência com a obra foi impactante e gostei de ter tido a oportunidade de ler. O primeiro ponto que me incomodou um pouco (e preciso ressaltar que isso é uma questão pessoal, talvez por não estar acostumada com livros assim) foi a falta de estruturação de diálogos. Não é que o livro não os tenha, a obra possui diálogos, sim, mas eles estão inseridos no meio dos parágrafos e não são sinalizados, começam sem qualquer aviso e terminam do mesmo jeito. Em vários momentos eu precisei reler partes do parágrafo para entender o que era diálogo e o que não era.

A falta da sinalização de capítulos também dificultou a leitura, mas logo me acostumei a isso, já li outros livros onde os autores optaram por não separarem os capítulos. Acho um recurso ousado e arriscado, tendo em vista que é preciso um pouco mais de atenção do leitor para compreender as passagens.

A autora mescla a narração entre passado e presente, eu gosto muito quando isso acontece, mas nesse caso acabou me deixando mais confusa em determinados trechos e eu precisava reler para entender que estava mudando a linha do tempo.

E uma das coisas mais interessantes foi poder conhecer um pouco mais da História do nosso país através dessa leitura, eu não sabia como havia sido a resistência na Amazônia e não conhecia o movimento Guerrilha do Araguaia. A autora diz que o protagonista (Pedro Naves) não foi inspirado em nenhum dos guerrilheiros, mas que é uma homenagem a todos.

Um livro que não é fácil de ser lido, mas que vale a pena. A autora mostra o quanto pesquisou para construir a obra e o resultado é um livro muito bem desenvolvido, que mistura ficção e realidade. Apesar de ter sido bem diferente do que eu imaginava, foi uma leitura que gostei de fazer.

Minha nota para o livro

Um comentário:

  1. Conheci esse site essa semana e já estou adorando os conteúdos, são ótimos!

    Parabéns! 👏

    Meu Blog: Mariah Rita

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