[Resenha] A Revolução dos Bichos

5 de abril de 2021

 

Título: A Revolução dos Bichos
Autor: George Orwell
Editora: Intrínseca
Páginas: 240
Ano: 2021
*Cortesia da editora
Sinopse: Clássico moderno com ilustrações de Ralph Steadman chega em edição especial ao Brasil.
Desde o seu lançamento, em 1945, A revolução dos bichos se tornou um marco da literatura. Publicado em todo o mundo, vendeu milhões de exemplares e segue vital e relevante até — e principalmente — hoje.
Nesta fábula sobre uma rebelião de animais cansados de serem explorados por seus donos humanos, George Orwell ilustra como uma nova tirania toma o lugar de uma antiga e como o poder corrompe até as causas mais nobres. Depois de se rebelarem na Fazenda do Solar, os animais, liderados por um grupo de porcos, estabelecem um regime igualitário e cooperativo que funciona até alguns bichos começarem a usufruir de mais privilégios do que o estabelecido inicialmente. Com regras que mudam a toda hora, sempre beneficiando quem as cria, a revolução logo se torna uma confusa teia de ordens e tarefas sem sentido, culminando em paranoia, confrontos e dúvidas.
Com dois prefácios do autor escritos em momentos diferentes, esta edição evoca o contexto histórico e social no qual este clássico foi concebido. As ilustrações marcantes de Ralph Steadman, tão dilacerantes e satíricas quanto o texto de Orwell, fazem deste volume uma peça singular, dando visualidade a uma história que não se cansa de ser atual.
Além das ilustrações, há ainda dois textos críticos: o primeiro de André Czarnobai, que discorre sobre como chegou a algumas escolhas em sua tradução, e mais um posfácio inédito do crítico literário José Castello, que esclarece as intenções da obra e aprofunda a biografia do autor, guiando a leitura para além das impressões iniciais que o texto de Orwell provoca.

Resenha
“Portanto, meus camaradas, qual é a natureza de nossa vida? Vamos admitir: nossa vida é patética, sofrida e curta. Nós nascemos, recebemos comida suficiente apenas para continuar respirando e, aqueles entre nós que são capazes, somos forçados a trabalhar até a última partícula de força; e no exato momento em que nossa utilidade chega ao fim, somos assassinados com monstruosa crueldade.”
Em uma fazenda na Inglaterra, os animais não aguentam mais a exploração humana sobre eles, a total falta de consideração com que são tratados, as condições deploráveis em que vivem, os sacrifícios que precisam fazer para o homem continuar a viver e usufruir do esforço dos animais. Na fazenda do Sr. Jones, Fazenda do Solar, os animais são incitados por um discurso comovente e inspirador, é apenas o começo de uma nova era.

Major, um enorme porco premiado, teve um sonho estranho e se sentiu na obrigação de compartilhá-lo com os animais da Fazenda Solar, algo tão grandioso assim não poderia ficar guardado apenas em sua memória. Sentindo que o seu fim está próximo, ele resolve despertar nos animais o desejo da mudança. Ele sabe que não viverá para ver as maravilhas com que sonhou, mas tem a esperança de que esse dia chegue e seus camaradas sejam livres. O discurso de Major surtiu o efeito esperado e todos começam a sonhar com a liberdade. Mas Major faz alertas também, não será nada fácil e vai ser preciso disciplina e determinação.
“E lembrem-se, camaradas, de jamais fraquejar em sua determinação Nenhum argumento deverá convencê-los do contrário. Nunca deem ouvidos quando lhes disserem que o Homem e os animais têm interesses em comum, que a prosperidade de um é a prosperidade do outro. Que entre nós, animais, exista então uma união e uma camaradagem perfeitas nesta luta. Todos os homens são inimigos. Todos os animais são camaradas.”
E então os animais se rebelam e dão início à revolução. Liderados por um grupo de porcos eles expulsam os Homens da fazenda e a tomam para si. Para que as coisas possam dar certo, é preciso estabelecer algumas regras. A era do Animalismo começou e logo as demais fazendas ficam sabendo do ocorrido, ninguém acredita que isso será levado adiante por muito tempo, não acreditam que os animais vão conseguir cuidar e administrar sozinhos uma fazenda. Mas as pessoas vão se surpreender com os feitos deles. Cada vez mais organizados, cada vez mais determinados.

Dois grandes líderes surgem, Bola de Neve e Napoleão. Os dois têm ideais totalmente diferentes e cada um age de uma maneira. Enquanto um defende trabalhar duro para a construção de um moinho que poderá poupar esforços no futuro, o outro abomina a construção do mesmo e quer suprir a necessidade que julga ser a mais urgente que é aumentar a produção de comida. Os animais da fazenda ficam divididos em duas facções e as polêmicas só aumentam com o passar dos dias. Os princípios básicos do Animalismo são deixados de lado e vão, pouco a pouco, sendo esquecidos e resumidos a frases radicais. Até que as regras pré-estabelecidas se modificam para beneficiar os que estão no poder.
É em meio ao caos que a fazenda se tornou que uma tirania se instala. Qualquer um que vá contra as regras sofrerá as consequências. Qualquer um que ouse questionar a liderança sofrerá as consequências. O regime ditatorial amedronta os animais. A maioria não lembra mais do discurso de Major, e os que lembram estão confusos demais, as novas regras não parecem certas, mas se o líder falou, está falado e ninguém pode contestar.

O líder começa a exigir sacrifícios de alguns grupos de animais, tudo para – segundo ele – um bem coletivo. Ele diz que todos precisam fazer coisas que não querem para que a Revolução continue e para que os Homens não retomem o poder. Mas aqueles que estão em posições privilegiadas começam a fazer coisas que o Animalismo condenava e distorcem não apenas as regras, mas situações já passadas e manipulam os animais. Essa liderança espalha teorias da conspiração, executa traidores, amedronta os animais.
Minha impressão
Ler a Revolução dos Bichos foi, sem dúvidas, um marco na minha vida como leitora. Eu sempre ouvi falar do livro e das mensagens que ele traz, dos assuntos polêmicos que aborda, mas nunca tinha lido. Eu já esperava que seria uma grande leitura, mas não tinha ideia do quanto seria impactante também. A ousadia de George Orwell só pode ser descrita como brilhante, genial.  Ele nos trás uma sátira que continua incrivelmente tão atual que é difícil acreditar que o livro foi escrito em meio à Segunda Guerra Mundial.

Os animais da Fazenda Solar se cansam dos maus tratos, da crueldade com que os Homens os tratam e se rebelam, expulsando o Sr. Jones e a sua esposa e tomam a fazenda para si. Mas o que começa com uma causa nobre logo se torna um governo ditatorial e o medo se espalha entre os animais. Os princípios do Animalismo vão sendo modificados para beneficiar aqueles que estão no poder e quem quer que vá contra alguma das regras vai sofrer as consequências. Os traidores são executados, teorias conspiratórias são levantadas e cada vez mais os líderes vão fazendo aquilo que deveria ser desprezado. Os animais nada podem fazer, são governados por verdadeiros tiranos.

O final me deixou extremamente chocada, embora tenha ficado claro durante o governo dos porcos que algo do tipo aconteceria. Com discursos inspiradores e até emocionantes, os porcos conseguem ludibriar os animais e os manipulam, são poucos os que percebem o que está acontecendo. Com o final desse livro o autor traz uma mensagem muito clara sobre atitudes radicais, quando aqueles que estão na liderança se assemelham aos inimigos, alguma coisa está errada. Quando qualquer um de nós passa a ter atitudes extremas, alguma coisa está errada. Não é da noite para o dia que um tirano conquista uma nação, quando se dão conta, ele já está lá e ninguém pode contestá-lo sem sofrer ou ser executado.

Essa edição da Intrínseca está impecável! Em capa dura, com sobrecapa, fitilho, corte vermelho e ilustrações de Raph Steadman. Além disso, temos dois prefácios escritos pelo próprio George Orwell (um escrito para a edição ucraniana) e um posfácio por André Czarnobai e outro por José Castello.

Minha nota para o livro

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