[Resenha] Primeiro eu tive que morrer

18 de março de 2024

 

Título: Primeiro eu tive que morrer
Autor: Lorena Portela
Editora: Planeta
Páginas: 208
Ano: 2022
*Cortesia da editora
Sinopse: Uma jovem publicitária é pressionada a fazer uma pausa e se refugia na vila paradisíaca de Jericoacoara, no Ceará, Nordeste do Brasil. Sob o Sol, entre mergulhos no mar e os temperos daquela terra, sob a Lua, entre gozo e sombra, reconecta-se com outras mulheres, apaixona-se e vive um comovente e misterioso renascimento.Um poderoso romance de estreia que, ao revelar a dolorosa mirada dessa jovem no espelho, coloca a todos no reflexo e contesta um mundo no qual o mecanismo de relações abusivas, excesso de trabalho, assédio e desamor é sinônimo de força. Ou sucesso.
Resenha
Sentindo um esgotamento físico e psicológico, uma publicitária se obriga a fazer uma pausa na carreira para cuidar de si mesma. São anos abandonando suas próprias vontades, negligenciando seus sentimentos para conseguir se destacar no trabalho e, ainda assim, ter todo o seu esforço jogado nos braços de um homem qualquer para que ele recebesse os créditos pelas noites mal dormidas dela, pelos relacionamentos fracassados que ela teve, pelas renúncias que teve de fazer. Mas chegou o momento de dar um basta, agora a mulher precisa de um reencontro consigo mesma e se colocar como prioridade.

É quando decide passar dois meses em Jericoacoara em uma pausada de duas amigas. Estar ali sem fazer nada lhe deixa com a sensação de inutilidade, são tantos anos de sua vida servindo aos outros, trabalhando exaustivamente que esse sossego e calmaria a fazem ter a necessidade de ser produtiva, quer mostrar que não está à toa. Mesmo sabendo que foi ali para descansar. Então oferece uma ajudinha aqui e outra ali enquanto aproveita os dias ensolarados e o clima do lugar.
E esse período de descanso vai lhe trazer uma surpresa gostosa do passado para, quem sabe, ter uma nova chance. Glória é uma espanhola que a publicitária conheceu algum tempo atrás, em um réveillon em Lisboa e elas tiveram um flerte que não acabou indo para frente e agora o destino tratou de colocá-las frente a frente novamente. Nossa protagonista está ansiosa e, ao mesmo tempo, temerosa... mudou muito desde a última vez que se viram.

Por mais que ninguém perceba, há algo acontecendo com ela, seu psicológico está frágil e isso vem refletindo em seu corpo, ficando cada vez mais magra, mais abatida. O sorriso no rosto não deixa transparecer o que acontece realmente por dentro. Ninguém consegue enxergar. Mas talvez Glória entenda o que está acontecendo e isso deixa a mulher com receio do que vai acontecer.  E quando Glória chega, seus dias se iluminam e ela sente uma euforia, uma vontade de tentar, de agradar, de cuidar.
Jericoacoara provoca nela o efeito desejado, mesmo que o peso que carrega ainda a afete, estar cercada por mulheres incríveis, fortes e corajosas é o fôlego a mais que ela tanto precisava.  E entre amizades antigas e novas, a mulher se depara com Amália, que lhe desperta sentimentos conflitantes a todo instante. Talvez por vergonha de um possível julgamento ou medo de perder a confiança de Glória, ela esconde sua proximidade com Amália e a encontra quando está sozinha.

Amália parece compreendê-la melhor do que qualquer outra pessoa e lhe fazia perguntas que a incomodavam porque no mais íntimo do seu ser ela também fazia as mesmas perguntas. Como Amália ousava conhecê-la tão bem, melhor que ela mesma?
Minha impressão
Em “Primeiro eu tive que morrer” temos uma história tão intensa e íntima que pode ser confundida com a história de todas nós, mulheres.  A protagonista sem nome pode ser qualquer uma de nós, eu, você, uma amiga, uma parente, uma conhecida, uma mulher esgotada física e psicologicamente, que precisa com urgência parar e cuidar de si mesma. É uma jornada de autodescoberta, de reflexão, recomeço e, acima de tudo, um grande alerta.

“Quanto tempo se leva para morrer?” é uma das maiores questões do livro, não morrer literalmente, mas a morte interior, aquela que acontece lentamente e pouco a pouco vai levando um pedacinho da gente. Um livro que aborda questões sérias e importantes ligadas a transtornos mentais, assédio, machismo, luto e outros, e podemos acompanhar a protagonista sofrendo calada, silenciosamente sem que ninguém percebesse.

Senti falta de ter um aprofundamento nessas questões, um livro com potencial enorme para explorar de forma brilhante assuntos considerados tabus na sociedade, mas que se manteve ali na superficialidade, apenas nas entrelinhas e de uma maneira bem sutil. Mas isso não tira a grandeza da obra, não mesmo, é um livro sensível, que toca em nossos corações e faz com que olhemos para dentro de nós, ele nos provoca uma reflexão genuína.

E há um ponto que eu gostaria muito de poder falar mais abertamente, mas seria um spoiler enorme. Amália. Uma personagem misteriosa e decifrá-la vai trazer luz para a escuridão em que a protagonista se encontra. Amália contrasta com a mulher que por mais que não saibamos o nome, conhecemos a sua vida, suas dores, seus medos e anseios.

É uma leitura fluída e com uma carga dramática pesada, Lorena Portela tem uma escrita realista e nos envolve desde o começo. E temos não só a história da protagonista, mas também vemos um pouco das outras mulheres que a amparam e que são personagens que nos cativam.

Fica aqui a minha recomendação para quem gosta de uma leitura mais reflexiva. 

Minha nota para o livro


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