[Resenha] Piano Mecânico

18 de novembro de 2020

Título: Piano Mecânico
Autor: Kurt Vonnegut
Editora: Intrínseca
Páginas: 496
Ano: 2020

*Cortesia da editora

Sinopse: Clássico redescoberto da literatura distópica narra um mundo dominado por gerentes, engenheiros e máquinas.
Em um futuro não muito distante, pós uma nem tão distópica Terceira Guerra Mundial, as máquinas finalmente venceram. Quase tudo foi automatizado e logo a sociedade se dividiu sob um novo sistema de estratificação não mais baseado em dinheiro, mas sim em inteligência. De acordo com seu QI e capacidade intelectual, os indivíduos são classificados e registrados em um cartão perfurado e sua posição social ― um destino de glória ou esquecimento ― só pode ser definida a partir da análise desses dados.
Do lado dos privilegiados ― engenheiros e gerentes ― o doutor Paul Proteus leva uma vida confortável no alto escalão das Indústrias Illium, o maquinário que controla toda a vida da cidade homônima. Sua casa confortável, o prestígio entre os pares, a esposa atenciosa e dentro dos padrões: absolutamente tudo está em seu devido lugar e a ordem impera. A visita inesperada do inquieto e inconformado Ed Finnerty, um ex-colega de trabalho, promove um abalo sísmico em Paul e suas consequências, a princípio restritas à psique, logo se transformam em uma ameaça não apenas ao seu estilo de vida, mas ao de toda a estrutura que o cerca.
Quando atravessa o rio que divide a cidade e suas castas, Paul vê com os próprios olhos como é a vida de quem foi excluído do sistema. Mais do que uma crítica à automação e ao progresso desenfreado das tecnologias, Piano mecânico é um livro sobre o desconforto inerente que toda estrutura social causa ao homem moderno. Escrito logo após a publicação de 1984, livro pelo qual Vonnegut admitiu ter sido fortemente influenciado, a obra compartilha com Orwell a ansiedade do pós-guerra e o medo de que, em tempos de paz, as nações venham a se submeter a níveis potencialmente paranoicos de controle social.

Resenha
Paul Prometeus tem apenas trinta e cinco anos e é o homem mais importante e mais inteligente de Illium, no entanto, a sua posição social começa a incomodá-lo e está cada vez mais difícil não fazer nada para reparar as injustiças socioeconômicas. Começa com algo pequeno e pouco a pouco vai surgindo uma revolução dentro dele. E Paul não é o único, ele só não sabe disso ainda. Mas em breve vai descobrir e tal descoberta mudará para sempre a sua vida.

Após a Terceira Guerra Mundial as pessoas perderam espaço para as máquinas que assumiram o poder, são as máquinas que ditam as regras e as pessoas apenas cumprem. A sociedade vive sob um sistema no qual o QI é quem diferencia as pessoas, quanto mais elevada for a capacidade intelectual de um indivíduo mais alto será o cargo que ele ocupará, teoricamente, os mais inteligentes recebem melhores empregos e têm uma vida mais confortável que os menos inteligentes. Paul está entre os seres humanos com QI mais elevado e, consequentemente, assume um lugar privilegiado nas Indústrias Illium.
A automação e a tecnologia em constante progresso não incomodavam Paul até a visita de Ed Finnerty, um amigo que tem uma visão completamente diferente sobre a sociedade. Finnerty desperta em Paul a vontade de fazer diferente, de repente, a substituição de pessoas por máquinas parece ser tão injusto, trabalhos que antes eram feitos por gente agora são de responsabilidade de máquinas que gastam muito menos tempo e geram muito mais rendimento.

Gradativamente Paul começa a entender as coisas que existem de errado, ele enxerga a desigualdade social e se sente culpado por estar vivendo uma vida tão confortável ao mesmo tempo em que existem famílias sofrendo e enfrentando dificuldade financeira. As pessoas estão perdendo seus empregos, com facilidade as pessoas estão sendo substituídas e deixando de serem úteis, o ser humano está perdendo o seu valor. Mas essa regra só é válida para os desprovidos de grande capacidade intelectual, porque os inteligentes continuam sendo cada vez mais privilegiados.
“Agora vocês projetaram um sistema que exclui os cargos que essas pessoas ocupavam e na economia e no mercado, e a maior parte delas está descobrindo que, sem isso, restou pouco mais que nada. Bem menos que o suficiente, na melhor das hipóteses.”

Paul é casado com uma mulher que se beneficia da posição hierárquica do marido e não tem nenhuma vontade de mudar seu estilo de vida, Paul tenta convencer Anita de que as pessoas não precisam de tanta riqueza para serem felizes e que eles podem viver sem ostentação, levar uma vida mais simples e mais humilde para que mais pessoas possam voltar a ter dignidade. Anita é muito apegada à riqueza e aos privilégios, ela não quer dar ouvidos ao marido. Paul tem planos que certamente deixarão Anita incomodada e talvez seu casamento esteja em risco, mas ele sente que é o certo a fazer.

Então chega o momento de fazer uma escolha difícil que ele vem protelando há meses, Paul pode dar voz às pessoas menos afortunadas, pode dar um rosto à causa, pode dar o seu nome, porém, há um custo elevadíssimo para isso e Paul não sabe se está pronto para pagá-lo.
“E ali estava mais uma vez a mais antiga das bifurcações, a mesma que Paul tinha vislumbrado meses antes, na biblioteca de Kroner. Escolher um ou outro caminho não tinha nada a ver com máquinas, hierarquias, economia, amor, idade. Era uma questão puramente interna. Qualquer criança com mais de seis anos conhecia essa bifurcação e sabia que os mocinhos faziam ao chegar nela, e o que os bandidos faziam.”
Minha impressão
Piano Mecânico tem uma premissa completamente interessante e eu logo fiquei curiosa com ele, estava ansiosa para ler e foi uma leitura muito satisfatória, gostei de como o autor conduziu a trama e também gostei do desfecho. Apesar de o final ficar um pouco aberto, o autor nos dá uma boa ideia do que acontece após o ponto final e achei que ficou ótimo dessa maneira, talvez se ele tivesse colocado algo a mais não teria ficado assim tão bom.

Uma sociedade automatizada após a Terceira Guerra Mundial, as máquinas ditam as regras e as pessoas as cumprem. As pessoas são divididas pelo seu QI, os mais inteligentes ficam com os melhores empregos e têm mais privilégios, enquanto os com a capacidade intelectual menor estão sendo cada vez mais substituídos por máquinas que fazem seus trabalhos em menos tempo. Dessa maneira, a situação socioeconômica de Illum é totalmente desigual.

Há uma ponte que divide a cidade, de um lado os ricos, do outro lado os pobres. Um não é aceito do lado do outro, cada um faz o seu trabalho e as coisas estão funcionando dessa maneira há muito tempo, só que a situação está ficando cada vez pior para as pessoas com QI menor. Paul ocupa um dos cargos mais altos em Illium, porém ele não está satisfeito com essa injustiça e quer fazer algo para mudar. Ele sabe que ir contra o sistema pode lhe gerar muitas complicações e também sabe que seu casamento estaria em risco porque a sua esposa jamais aceitaria viver sem seus privilégios, só que a cada dia ele se sente pior por estar vivendo confortavelmente enquanto muitas famílias estão passando por necessidade.

A obra traz muitas críticas sociais e nos deixa reflexivos em vários momentos, uma das coisas que eu mais achei interessantes foi o fato de o livro ter sido escrito há tantos anos e ele ainda ser tão atual. É uma obra com mensagens importantes sobre a desigualdade social e sobre a substituição de pessoas por máquinas. 


Minha nota para o livro


Nenhum comentário:

Postar um comentário