[Resenha] Soldados do Jazz

6 de dezembro de 2018

Título: Soldados do Jazz
Autor: Thomas Saintourens
Editora: Vestígio
Páginas: 208
Ano: 2018
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*Cortesia da editora
Sinopse: Em 1º de janeiro de 1918, desembarcava na França um som até então desconhecido no Velho Continente: o jazz. O estilo, que estava nascendo na América, chegou à Europa pelas mãos do 15º Regimento de Infantaria da Guarda Nacional de Nova York, composto por soldados do Harlem, famoso bairro negro da cidade.
Carregadores de malas, estivadores, mecânicos, boxeadores, advogados e músicos, esses combatentes acabaram relegados a trabalhos secundários e a serviços de apoio. Negros de origens diversas que quiseram acreditar que combater lado a lado com seus compatriotas brancos faria deles seus iguais. Homens rejeitados pelo próprio exército, que encontraram nas tropas francesas irmãos em armas que os reconheceram por sua coragem – e não apenas porque levaram o jazz em suas malas!
Treinados pelo exército francês, logo mostraram que sabiam empunhar suas armas tão bem quanto seus instrumentos, e suas façanhas heroicas na guerra se tornaram tão conhecidas quanto sua música. Em novembro daquele mesmo ano, retornaram vitoriosos aos Estados Unidos ostentando a mais alta condecoração das forças francesas. A batalha, porém, estava longe de terminar. Se do outro lado do oceano haviam lutado pela liberdade contra os soldados do Kaiser, em casa teriam que lutar pela democracia contra inimigos ainda mais cruéis: o racismo e a segregação. Foram necessários quase cem anos para que, em 2015, os heróis do Harlem fossem finalmente reconhecidos e honrados de forma oficial pelo governo do presidente Barack Obama.
Resenha
“Esses soldados, esses poilus do Harlem, combateram em duas frentes: na primeira linha das trincheiras, junto aos soldados franceses; e contra a segregação da sociedade americana, reproduzida, como numa caricatura, dentro do exército americano. Talvez tenha sido antes de tudo para lutar contra esse inimigo interno, tão poderoso quanto os soldados do Kaiser alemão e capaz de regenerar infinitamente, que eles se entregaram de corpo e alma a uma das guerras mais devastadoras de todos os tempos.”
Em 2 de junho de 2015, quase um século após o fim da Primeira Guerra Mundial, o presidente Barack Obama tenta reparar um erro que durante décadas ficou esquecido e honra a memória de dois heróis de guerra: O sargento William Shemin (um judeu) e o soldado Hanry Johnson, um negro americano. Eles, enfim, recebem – postumamente – o reconhecimento pelas suas ações na batalha da floresta de Argonne.

Em 1917, a França precisa de aliados e o Congresso dos Estados Unidos aprova a sua entrada no conflito, o presidente Woodrow Wilson convoca a população para se alistar e por maior que sejam seus esforços com campanhas publicitárias o resultado não é o esperado. A solução então é tornar o alistamento obrigatório a todo homem com idade entre 21 e 31 anos, é quando surge um impasse: como ficaria a situação dos “homens de cor”?
Mesmo após a abolição da escravatura, os EUA mantêm práticas segregacionistas e não aceitam uma relação amistosa entre brancos e negros, como poderiam esses dois grupos lutar juntos na guerra? A resposta para essa questão é colocar brancos na liderança sempre, impedir que os negros consigam alcançar altas posições e garantir que cada "soldado de cor" passe por humilhações constantes e provações absurdas. O exército negro é discriminado, a ele é imposto regras diferentes.
“O presidente Wilson, apoiado por um amplo espectro de parlamentares oriundos do ‘Sólido Sul’, não consegue se imaginar colocando um fuzil na mão desses animais de carga. Também lhe parece inconcebível que um soldado branco obedeça às ordens de um oficial negro. De qualquer jeito, mesmo entre soldados, eles não poderiam se falar de igual para igual, nem se olhar nos olhos... Mas o que diriam os brancos enviados para as trincheiras se os negros fossem eximidos disso?”
Esses homens foram humilhados a vida toda, eles carregam no corpo e na alma as marcas da luta por igualdade racial, por dignidade. Ao irem para a guerra eles querem mostrar que são capazes, independentemente da sua cor eles são pessoas e merecem ser tratados como tal. No entanto, essa igualdade está longe de ser conquistada. Mesmo com a bravura com a qual lutam, com o surgimento de verdadeiros heróis de guerra, com a morte de soldados valentes, os homens “de cor” continuam enfrentando o pior dos inimigos, o racismo.
Ao desembarcarem na França os soldados não chegaram como reforço em um primeiro momento, percorreriam um longo caminho antes de entrarem em combate, mais uma vez precisariam provar ser tão capazes quanto os soldados brancos. E quando pisaram na França fizeram história, muitos anos depois seriam vistos como os heróis negros da Primeira Guerra Mundial. Mas também estavam levando o Jazz a novos lugares.

Os franceses jamais tinham ouvido algo parecido, os americanos levaram um ritmo diferente e que logo cativou a todos. O Jazz chegou para ficar. O impacto foi tão positivo que a cada estação que paravam eles tocavam, os homens negros estavam sendo reconhecidos por sua habilidade. Fizeram amizades, foram tratados com respeito.
“No dia 1º de janeiro de 1918,o porto de Brest recebe  um regimento de párias. Soldados que a administração americana preferia esconder. Homens sem treinamento, que fizeram dessa guerra absurda uma questão pessoal. Uma questão de honra. Um ato militante. Eles vão trocar seus cabos de vassoura por fuzis americanos. Estão dispostos a lutar até a morte para provar que não são inferiores. Que podem ser heróis.”
Minha impressão
No ano do centenário da Primeira Guerra Mundial somos presenteados com uma obra tão rica em História e em detalhes, que nos apresenta novos personagens e nos traz a triste história de um povo discriminado pela cor de sua pele. Soldados do jazz é leitura obrigatória para quem gosta de estudar mais sobre as guerras.

No livro encontramos uma leitura emocionante e percebemos que mesmo depois de tantos anos do fim da guerra ainda temos muito a aprender.  E ainda depois de tudo o que eles enfrentaram na guerra seu país continuou os tratando como inferiores, a segregação racial estava tão presente e tão forte quanto antes. Os soldados feridos não receberam apoio do governo, passaram dificuldades.

Embora eu queira, não dá para falar muito, então paro por aqui. Dê uma chance ao livro, garanto que você vai se surpreender com a leitura.

Minha nota para o livro

17 comentários:

  1. Amei a resenha e o livro parece ter uma mensagem forte .
    Parabéns!

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  2. Lendo sua resenha eu me dei conta de que li pouquíssimas obras e materiais sobre a primeira guerra. E e fato, depois de tanto tempo, essa reparação foi muito importante.

    Sai da Minha Lente

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  3. Eu fujo um pouco dessas leituras porque costumo me emocionar bastante, mas acho sua dica muito válida principalmente porque parece ser um livro bastante completo.

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  4. Oi, Beatriz! Tudo bem?
    Eu ainda não conhecia esse livro, mas acredito que seja uma leitura muito forte e difícil, apesar de importante. Acho muito importante conhecermos a história para entendermos as questões sociais atuais. Acho que todo mundo sabe o quanto o racismo ainda é presente nos EUA (e em outros lugares do mundo) e quando vemos histórias como a desses soldados entendemos que é uma situação muito mais complexa do que imaginamos.
    Não sei se é uma leitura que eu faria agora, porque acredito que seja muito doloroso ler sobre todas as humilhações que eles enfrentaram e eu ando fugindo de leituras pesadas. No entanto, vou anotar a dica para ler futuramente, pois acho que se trata de uma leitura muito relevante.
    Beijos!

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  5. Cara, que livro! Adorei essa resenha, parece ser um ótimo livro, com uma mensagem fortissima.
    Gosto dese tipo de livro, eles me ajudam a entender muitas das questões sociais de hoje em dia, é algo que te enriquece muito.
    Parabéns pelo trabalho.

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  6. Olá!
    Hoje mesmo li uma história que foi apagada por puro preconceito na época, e eu pensei: Histórias assim, tem que ser contadas! Gosto muito de ler livros que se passam na guerra, ainda mais quando contam histórias reais. Não conhecia o livro, e além de falar sobre o preconceito horrível que os negros enfrentavam na época, ainda traz história do Jazz. Adorei, quero ler assim que possível!

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  7. Oi Beatriz!
    Eu não soube desse lançamento da Vestígio, mas fiquei muito interessada. Adoro livros sobre guerras e além desse livro tratar de uma, ele fala de Jazz, que é um estilo musical que gosto muito, fala também da segregação racial nos EUA, que acho extremamente importante falarmos e termos livros sobre.
    Dica mais que anotada.
    Bjss

    http://umolhardeestrangeiro.blogspot.com/

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  8. Olá, Beatriz.

    Que resenha tocante! Adorei. Gosto de livros com abordagens em guerra e o quanto elas trazem reflexões. Concordo com o que você disse: mesmo depois de tantos anos, ainda temos muito o que aprender com a guerra.

    Beijos,
    Blog PS Amo Leitura

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  9. Olá!
    É o tipo de leitura que envolve o leitor e ainda traz a tona a luta de tantos soldados. Lembro muito pouco sobre A Primeira Guerra Mundial, fazem anos que estudei sobre e essa edição sem dúvidas serve para estudo, para refletir e ver que precisamos muito aprender sobre o legado bom e ruim deixado desses dias difíceis.
    Beijos!

    Camila de Moraes

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  10. Olá,
    Raramente me interesso por livros com histórias reais mas este de verdade eu queria ler. Mesmo história da primeira guerra não sendo meu forte, porque eu estudei bem pouco sobre, eu queria ler este livro.

    Debyh
    Eu Insisto

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  11. Olá, tudo bem Beatriz?

    Soldados do Jazz parece ser realmente uma grande leitura, eu (Yvens) solicitei esse livro para o colaborador Jeffa Koontz, mas confesso que fiquei doido para solicitar para mim, pois gosto muito de história e principalmente sobre as Grandes Guerras Mundiais, bem como da participação dos negros em ambas as guerras. Parabéns pela resenha!
    Abraço!

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  12. Amo História, mas essa não conhecia e fiquei muito feliz de saber mais sobre essa obra rara por aqui, mostra também o quanto é grande a dívida história com a população negra Norte America, um país em que o racismo institucional ainda impera. Certamente esse é um livro que preciso ler.

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  13. Olá, tudo bem? Fã de livros que retratam os assuntos da Primeira Guerra Mundial, claro que não deixaria esse exemplar passar. Não o conhecia, mas fiquei feliz de vê-la aqui, até porque retratam dois assuntos emblemáticos em um unico volume. Com certeza irei conferir e ótima resenha!
    Beijos,
    http://diariasleituras.blogspot.com.br

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  14. Eu não conhecia o livro e estou interessantíssima em ler porque amo esse cenário de guerras e te rum panorama real do que esses homens passaram é sempre bem vindo. Amei a dica
    Beijos

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  15. Falou que é um livro baseado em alguma guerra, já desejo. E esse não foi diferente. Quero demais saber dessa história na íntegra, portanto já anotei o nome e até salvei a foto para comprar e matar minha curiosidade.

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  16. Oiii!!
    Eu tinha visto a capa deste livro, mas não havia lido a sinopse dele e estou encantada com a história que ele traz nele... É triste perceber o quanto a cor da pessoa influenciava na forma que ela era tratada e perceber que mesmo durante uma guerra não se queria que houvesse mistura é triste demais!
    Ao menos foram reconhecidos, mesmo que tardiamente. O triste é não terem esse reconhecimento em vida!
    Adorei sua resenha!

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  17. Alguém que leu o livro todo ,pode me explicar um pouco sobre o racismo no front?

    Pois só consegui algumas paginas.

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