[Resenha] Telefone Sem Fio

22 de abril de 2019

Título: Telefone Sem Fio
Autor: Vera Helena Rossi
Editora: Patuá
Páginas: 220
Ano: 2014
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*Cortesia da Oasys Cultural
Sinopse: "É a história de Alma. Alma Pontes. Da tenra infância à idade adulta. Do telefone cinza ao aparelho celular. Inicia-se com a pequena menina estrábica, que aprende a mentir na brincadeira de telefone sem fio e que revida da vida ao cuspir nos sapatos engraxados de um homem estranho que se intitula 'pai'. Desenrola-se com a garota que possui relacionamentos com uma semelhança suspeita, sempre em paralelo, aos relacionamentos de seu irmão Mauro. Até chegarmos à narradora do início com o rosto refletido em um retrovisor, buscando sentidos no oráculo pagão que é a internet." Ana Rüshe
Resenha
Alma Pontes é uma jovem jornalista que está em uma viagem de carro com o seu namorado Carlos e durante o trajeto relembra como foi a sua vida, ao lado de suas inseparáveis canetas coloridas ela passa para um caderninho as suas memórias e nos conta como as coisas chegaram ao ponto de partida do livro. O casal está indo a um enterro e Alma sente que, de alguma maneira, pode ter contribuído para isso.
“Se soubesse que algum dia tivesse que passar por isso, talvez terminasse tudo antes. Mas agora, do que de resto ainda sou, consigo apenas me prender a esta imagem que me foge e a este riso filhodaputa. Não quero pensar, desabafar silenciosa isso de inexato que me acaba. Depois do que me ocorreu de madrugada, descobri que meu único desejo é narrar de alguma forma do que sou feita, rabiscar meu passado com a mão esquerda no intento de compreender a razão do meu choro seco.”
E assim podemos conhecer Alma, saber como foi a sua infância e adolescência e ver como aquela menina que cresceu se tornou tão vazia, ela nunca imaginou que se perderia na própria vida, mas aí está a jovem Alma, sem rumo e completamente desolada.
Quando criança ela gostava de brincar de telefone sem fio, mas só achava graça quando adicionava seu toque à frase inicial e o resultado era todos gargalhando. Pode-se dizer que a brincadeira preferida de Alma Pontes era mentir e esse péssimo hábito a acompanhou por toda a sua vida, pequenas mentiras aqui e ali ditaram o seu caminho, as mentiras foram como uma bússola.

Alma morava com a mãe e o irmão, a mãe (senhora da sombra larga) muito exagerada e dramática, o irmão, seu eterno cúmplice. Da mãe eles pouco recebiam afeto ou atenção, ela passava seus dias à frente da televisão assistindo aos jornais e vendo as mesmas notícias sendo dadas em programas diferentes. Mas com seu irmão Mauro era diferente, eles se entendiam, se acobertavam e conforme os anos passaram continuaram unidos, ainda que distantes por motivos diversos, mas nunca se abandonaram.
Mauro e Alma não tiveram sorte no amor, seus namoros terminavam com os dois de coração partido e, por ironia do destino, sempre ao mesmo tempo. Mauro namorou algumas amigas de Alma e isso a deixou em situações complicadas ao precisar mentir para elas por causa do irmão e ela não se incomodava.
“Enquanto fumavam, Alma e Mauro tragavam a certeza de que o quarteto estava desfeito. Dali em diante, seguiam apenas os  dois irmãos e seus suspiros arrastados.”
Alma não é uma protagonista perfeita, tampouco seu irmão Mauro, ambos são cheios de defeitos, mas tentam encontrar uma maneira de serem felizes. Correm atrás de seus sonhos, fazem o que querem, mas seus atos podem magoar outras pessoas e nem todo mundo aceita bem.
Minha impressão
Quando comecei a leitura de Telefone Sem Fio não esperava me envolver tanto com a trama e foi uma agravável surpresa, gostei bastante. Alma Pontes é uma personagem que nos conta suas memórias através de seu caderninho enquanto está indo a um enterro, através de suas memórias podemos conhecê-la bem e achei uma boa jogada da autora intercalar o passado e o presente da personagem.

A única coisa que me incomodou foi que em todas as vezes que a narrativa volta para o presente a protagonista fala diretamente com o leitor e isso (em MINHA OPINIÃO) tira a atenção, acaba interrompendo aquele momento da leitura, se o recurso fosse usado uma ou duas vezes eu nem teria me importado, mas acontece a cada mudança de capítulo. Eu adoro livros nos quais podemos ter uma visão do passado e do presente dos personagens, mas dessa maneira ficou cansativo.

Tirando essa questão, eu curti muito a leitura. A autora inseriu acontecimentos nacionais à trama e sua escrita tem um toque que deixa tudo ainda mais real. Conforme Alma cresce nós vemos um pouco de como foi a década de 90 e quando ela ingressa no jornalismo temos mais fatos históricos sendo mostrados, mas nada em exagero, o que é melhor ainda.

O final não chega a ser surpreendente, temos algumas pistas ao longo do livro, mas é bom acompanhar o desenvolvimento. Quando eu descobri de quem era o enterro para o qual Alma está indo eu passei a prestar mais atenção nas atitudes do personagem e queria descobrir o que aconteceria para que ele fosse morto, o motivo, sim, é uma surpresa!

Eu não poderia terminar essa resenha sem elogiar o trabalho gráfico do livro. Achei a capa curiosa e ela reflete bem o que encontramos na obra; as folhas são amareladas e os capítulos se iniciam com folhas pretas; a fonte está em um ótimo tamanho para a leitura, dá para ler confortavelmente. 

Minha nota para o livro

10 comentários:

  1. Olá, tudo bem? Não conhecia essa obra ainda, mas parece ser um livro bem diferente do que estou acostumada a ler, e muito interessante. Preciso confessar que lendo tua resenha fiquei curiosíssima para saber de quem é o enterro, haha. Adorei a dica!

    Beijos,
    Duas Livreiras

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  2. Nossa que interessante! De cara a capa do livro já me encantou, adoro capas com essa paleta de cores!
    Fiquei bem curiosa com a sua resenha, deve ser um livro muito forte, mas ao mesmo tempo muito gostoso, vou procurar aqui pra ler depois! <3 Valeu mesmo!

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  3. Eu estou bem curiosa para saber de quem é o enterro ao qual eles vão, achei a personagem Alma muito interessante, com suas mentiras. Apesar da nota três, é uma leitura que fiquei interessada em fazer.

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  4. Gosto bastante da Editora atuá, sempre tem o cuidado com a qualidade do que publica, esse livro em questão não conhecia, me parece bastante juvenil e não acompanho muitos lançamentos juvenis, procuro mais os de poesia.

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  5. Olá

    Eu já até fiz uma teoria sobre de quem é esse enterro e porque Alma está refletindo tanto sobre sua vida e suas escolhas.
    Não sou muito fã de mudanças bruscas na narração de um mesmo livro porque quebra o envolvimento do leitor com a construção dos acontecimentos.

    Beijos

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  6. Oi Bea, quanta foto linda em um post só! Hahahha eu concordo contigo, esse recurso de falar diretamente com o leitor em alguns momentos pode quebrar totalmente o fluxo da narrativa e tudo pode se perder no caminho. Não conhecia a obra mas achei bastante interessante, principalmente porque sua resenha tá maravilhosa!

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  7. Eu achei esta capa uma fofura que só! Que pena que algumas coisas da narrativa deixaram a desejar, eu costumo ficar confusa vom narrativas assim, mas fiquei curiosa com a história e espero me surpreender com o motivo da morte também.

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  8. Olá, tudo bem? Acredita que não conhecia nem a editora?! Pois é haha Adorei a sua resenha e as ressalvas com relação ao seu gosto, porém acho que seria algo que não me incomodaria. Dica mais que anotada! E realmente o trabalho gráfico para excelente. Ótima resenha!
    Beijos,
    https://diariasleituras.blogspot.com

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  9. Oi Bia, não conhecia esse livro e nem a autora, mas achei a capa muito interessante e a historia me atraiu. Entendi perfeitamente os pontos que levantou na sua resenha, mas mesmo assim, acredito que quero me arriscar e conhecer essa historia. Fiquei encantada com as fotos que tirou!

    beijos

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  10. Olá tudo bem?
    Não conhecia esse livro, mas fiquei bastante intrigada tanto pela vida de Alma, que parece não ser das mais comuns, quanto pelo enterro e o misterio que o acerca. Gostei demais da sua resenha e também das fotos, que ficaram lindas.
    Com certeza tentarei ler esse livro.

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