[Resenha] Gente Pobre

5 de novembro de 2021

 

Título: Gente Pobre
Autor: Fiódor Dostoiévski
Editora: Principis
Páginas: 160
Ano: 2021
*Cortesia da editora
Sinopse: Primeira obra de Dostoiévski, Gente pobre mostra ao leitora dura realidade vivida pelos moradores de São Petesburgo, no século XIX por meio das cartas trocadas entre os protagonistas. Apesar de ter sido escrita quando o autor tinha apenas 24 anos foi sua primeira publicação, a obra já reflete a genialidade daquele que se tornou um dos grandes nomes da literatura russa. O relacionamento construído à distância, as dificuldades enfrentadas no dia a dia de uma vida paupérrima e os sentimentos mais profundos do ser humano estão claros e representados pelos personagens deste romance realista e envolvente.

Resenha
Makar Aleksêievitvh e Varvara Aleksêievna são dois amigos com uma grande diferença de idade, mas que se apoiam mutuamente nos momentos mais difíceis. Embora morem na mesma vila, sendo o quarto de um em frente ao quarto do outro, eles pouco se encontram e o fazem em raras ocasiões. Apesar de saber que Varvara apenas o tem como seu fiel amigo, Makar nutre sentimentos amorosos pela jovem.

A vida deles dois não é nada fácil, é um dia pelo outro. Varvara é uma jovem órfã que mora com a senhoria e para conseguir se sustentar precisa trabalhar costurando. Ela é protegida por Makar, ainda que a distância, seu amigo dedica-se em manter a bela jovem o mais confortável possível dentro das condições limitadas com as quais precisam viver. A condição financeira de makar está indo de mal a pior, mas ele teima em revelar à amiga a realidade e se afunda cada vez mais na pobreza.
Obviamente, o segredo de Makar não poderia permanecer oculto por muito tempo, Varvara descobre que seu grande amigo também precisa de ajuda e não hesita em lhe estender a mão. Embora suas economias sejam tão poucas, Varvara se esforça ao máximo para conseguir fazer o pouco que tem render para poder dividir com Makar que está precisando.

E a situação de ajudar um ao outro financeiramente segue assim durante todo o livro, quando um precisa de ajuda, o outro está disposto a ajudar. Estando em situação de miséria, ainda conseguem se alegrar com os pequenos detalhes e com as pequenas conquistas. As cartas trocadas entre eles são intensas e detalhadas, não poupam informações e contam cada acontecimento, seja para levar algum acalanto ao coração do amigo ou para contar algum infortúnio.

A troca de correspondência se tornou algo importante para eles, mas esse costume que lhes faz tão bem está ameaçado. Apareceu um homem muito rico que quer levar Varvara embora, não acha apropriado para uma moça tão bela e inteligente como ela ficar morando em um local de tamanha pobreza e quer levá-la para a nobreza.


Varvara será capaz de abandonar seu mais fiel amigo para viver uma vida de luxo? Makar seria capaz de abrir mão da mulher amada para que ela tenha uma melhor condição de vida?
Minha impressão
Gente Pobre é um retrato fiel da vida de trabalhadores pobres e do contraste de suas condições desfavoráveis em relação à classe mais rica. Fiódor Dostoiévski nos traz aqui um romance epistolar com protagonistas complexos e bem desenvolvidos.  Makar e Varvara são dois amigos que moram na mesma vila, mas que pouco se encontram. Eles conversam através da troca de cartas, onde contam em detalhes cada acontecimento de seu dia.

Através dessas cartas, podemos acompanhar o cotidiano dos personagens e compreender como é a rotina da vila, são relatos intensos e, por vezes, dolorosos. A obra possui críticas à maneira como a sociedade trata as pessoas mais pobres e como as mesmas precisam sobreviver em completa situação de miséria.

Apesar de ter tido uma ótima experiência com a leitura e de o livro ter me proporcionado momentos de reflexão, não posso deixar de comentar uma característica da obra que me incomodou bastante que é a quantidade exagerada de diminutivos. A maneira como os personagens usam os diminutivos dá a impressão de que estão interagindo com crianças bem pequenas, são tantos “amiguinho”, “minha pombinha”, “anjinho”, “roupinhas”, “sapatinhos”, “dedinhos”.... que isso me incomodou profundamente. Praticamente a cada virar de página encontramos expressões no diminutivo, entendo que podem ter sido usadas para demonstrar o carinho dos personagens e o cuidado que têm um pelo outro, mas para mim não funcionou e acabei achando esse ponto bastante cansativo.

Tirando essa questão, Gente Pobre foi uma leitura que gostei muito de ter feito e fiquei com vontade de ler mais coisas do autor, esse foi o meu primeiro contato com a escrita dele e gostei, mas também foi o primeiro livro de Dostoiévski que o publicou aos vinte e quatro anos.

É um romance epistolar, então o livro não tem diálogos, mas através da leitura das cartas trocadas entre os personagens nos aprofundamos  na vida deles, nas suas angústias, nos seus medos, é como se os conhecemos, tornamo-nos tão íntimos quanto eles são um para o outro.


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