O Amor, Meu Amor (Mia Couto)

21 de março de 2017

O Amor, Meu Amor

Nosso amor é impuro
como impura é a luz e a água
e tudo quanto nasce
e vive além do tempo.

Minhas pernas são água,
as tuas são luz
e dão a volta ao universo
quando se enlaçam
até se tornarem deserto e escuro.

E eu sofro de te abraçar
depois de te abraçar para não sofrer.

E toco-te
para deixares de ter corpo
e o meu corpo nasce
quando se extingue no teu.

E respiro em ti
para me sufocar
e espreito em tua claridade
para me cegar,
meu Sol vertido em Lua,
minha noite alvorecida.

Tu me bebes
e eu me converto na tua sede.
Meus lábios mordem,
meus dentes beijam,
minha pele te veste
e ficas ainda mais despida.

Pudesse eu ser tu
E em tua saudade ser a minha própria espera.

Mas eu deito-me em teu leito
Quando apenas queria dormir em ti.

E sonho-te
Quando ansiava ser um sonho teu.

E levito, voo de semente,
para em mim mesmo te plantar
menos que flor: simples perfume,

lembrança de pétala sem chão onde tombar.
Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há depois do mar.
(Mia Couto)

6 comentários:

  1. Achei tão fofo esse poema .
    Parabéns pelo blog, amei 😍

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  2. Meu, que coisa mais linda essa poesia.
    Não sei quem é Mia Couto, mas merece meu parabéns!
    Amei <3

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  3. Como não amar Mia Couto? eLe é sensacional. Gostei da poesia, não conhecia e me identifiquei. A primeira estrofe já vem lacrando, o amor impuro, o amor com erros, que aprende, remenda, quebra, cola.

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  4. Que linda essa poesia! É muto amorzinho!
    Adoro os escritos da Mia Couto e esse ficou lindo demais!

    beijinhos!

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  5. Oi Bia!!
    Que poesia mais linda!!
    Não conhecia a Mia, mas vou procurar outras poesias dela!
    Bjs

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  6. Olá flor...
    Que poesia linda <3
    Adorei, parabéns!

    Abraços

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