[Resenha] Ébano Sobre Canaviais

3 de março de 2023

 

Título: Ébano sobre os canaviais
Autor: Adriana Vieira Lomar
Editora: Publicação na Amazon
Páginas: 185
Ano: 2022
*Cortesia da agência Oasys Cultural
Sinopse: Fins do século XIX, José, 13 anos, foge de Portugal assolado pela peste, rumo ao Recife.
Adotado pelo cônsul Henrique e sua esposa Sara, termina os estudos e se torna caixeiro viajante.
Apaixona-se por Ébano, alforriada e filha da escravizada Shakina.
Apesar de Ébano ser livre, a sociedade recrimina a união do casal por ele ser branco e ela, preta.
Da união, nasce Zeca. Pressionada pela comunidade local, Ébano renuncia à maternidade e José foca na educação do filho e nos negócios. Conhece, na maturidade, a filha de uma baronesa e termina seus anos como um rico comerciante na pequena vila.
Já a alforriada Ébano traça uma jornada pessoal, não usufruindo do convívio do filho e de sua ascensão social como proprietário de um engenho de cana de açúcar.Passado o tempo, século XXI, Maria Antonieta, racista, desconhece seus verdadeiros antepassados, pensa ser descendente de uma baronesa e de José. Ao se ver só, separada do marido provedor, trilha uma jornada de autoconhecimento culminando na descoberta de sua verdadeira origem.
Resenha
1864, José veio ao Brasil de forma clandestina, sem documentos, sem dinheiro, sem lugar para ficar, tinha apenas a esperança de conseguir uma vida melhor que a levava em Portugal, ele abandonou sua casa, sua família, para tentar sobreviver no Brasil. Após longo sofrimento no porão de um navio, contando apenas com a boa vontade de uma amigo que dividia com ele a já fracionada comida, desembarcou em Recife e se viu em meio a um lugar desconhecido, estava maltrapilho, faminto, e sem ter ideia de como sobreviveria.

Sem documentos seria difícil conseguir emprego, mas no Consulado ele encontrou Henrique, um homem de bom coração que enxergou também bondade em José e força de vontade. Henrique e sua esposa Sara se agradaram do jovem, eles não tinham filhos e resolveram cuidar de José como se fosse seu próprio filho. E assim foi, José recebeu uma rara oportunidade e a aproveitou. Teve uma boa educação, bons estudos.
José teve a sorte de ser criado por uma família abolucionista, eles tinham uma empregada negra em casa e a tratavam bem, como se fosse da família, mas para todos os efeitos, eles eram tão escravocratas como os demais e quando tinham visita em casa a repudiavam. Era preciso manter as aparências para que não sofressem as consequências caso seus ideais fossem descobertos.

Longe dali, um casal escravo, traficado do Congo, chegou a uma senzala onde coisas terríveis aconteceriam. Antes de chegar, a jovem Kina foi estuprada pelo traficante e engravidou, seus novos patrões aceitaram os dois, ele foi trabalhar no engenho e ela na Casa Grande. O patrão era um homem asqueroso, mas a sinhá Anita tinha ideias diferentes e pouco a pouco começaria implantá-las sem que o marido se desse conta, ela prezava pelo bem dos escravos, queria dar condições melhores.
Nem mesmo a barriga já grande de Kina afastava o patrão das investidas contra ela, foram anos de estupro sem que ninguém pudesse fazer nada. Enquanto isso, sua filha Ébano crescia e tinha pela frente o mesmo futuro da mãe. Seriam apenas oito anos de liberdade infantil, mas o que elas não sabiam ainda é que o futuro de Ébano seria completamente diferente. Ela viveria a tão sonhada liberdade, mas pagaria um preço alto por isso.

Muitos anos depois, Maria Antonieta está pesquisando sobre o passado de sua família. Ela, uma mulher mesquinha e preconceituosa, foi obrigada a deixar de lado o orgulho para conseguir se sustentar, então, sem alternativas, começou uma busca implacável pela descoberta do passado. E o que ela descobre a deixa emocionada. Uma linda e sofrida história de amor na qual uma mulher precisa fazer escolhas difíceis pelo bem de seu filho
Minha impressão
Comecei a ler Ébano sobre os canaviais já sabendo que gostaria da leitura, mas eu não imaginava o quanto me veria envolvida com as histórias presentes na obra. A autora tem uma escrita muito gostosa e nos apresenta os sofrimentos da escravidão de forma crua e realista, foi doloroso ler, é revoltante pensar em tudo o que aconteceu e saber que, ainda hoje, temos um preconceito entranhado na sociedade.

Maria Antonieta é uma mulher mimada, que foi criada de forma elitista e preconceituosa, foi abandonada pelo marido e ficou sem ter como pagar as contas. Faz alguns meses que não recebe o arrendamento das terras da família, então – aconselhada pela avó – resolve partir em busca da história da família, para conhecer seu passado, é uma jornada de descobertas e autoconhecimento porque ela vai mudar muito nessa caminhada.

Mas o livro não começa a ser narrado por ela, começa em 1864 com José, um jovem vindo para o Brasil clandestinamente de Portugal, e com Chisulo e Kina, um casal pego no Congo por em uma emboscada e traficado para o Brasil. Kina tem uma filha, Ébano, fruto de estupr0 do traficante, mas a quem cria com todo amor não levando em consideração como ela foi concebida.

O destino une essas histórias de forma trágica e intensa, há muito sofrimento, muita dor. É uma leitura que nos envolve e nos faz ter empatia pelos personagens. Alguns momentos são cruéis, no entanto, retratam a realidade da época.

É uma obra que nos traz conhecimento, e mesmo sendo ficção não deixa de mergulhar profundamente em História e mostrar detalhes de uma época lamentável. Um livro que aborda assuntos difíceis de serem relatados e também que fala sobre a intensidade do amor verdadeiro, sobre as escolhas difíceis que precisam ser tomadas e as consequências delas. 


Minha nota para o livro

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