[Resenha] Três Dores

26 de janeiro de 2024

Título: Três Dores
Autor: Rodrigo Galvão
Editora: Publicação independente
Páginas: 184
Ano: 2023
*Publicidade
Sinopse: Sob a árdua tarefa de viver quando a sociedade foi projetada para lhes matar, três seres invisibilizados encontram nas ruas da cidade do Rio de Janeiro o seu lar – ou a falta dele. Quanto tempo sobreviverão antes que seus nomes virem números, e esses números sejam esquecidos?
A narrativa acompanha a história de Kleber, uma criança de 9 anos que foge de casa para sobreviver; Maria, uma prostituta expulsa de seu trabalho e lar; e Eliseu, um idoso abandonado pela família num asilo. Esses personagens se encontram, tão diferentes entre si, mas tão iguais perante as ruas, numa missão impossível de sobreviver às dores do passado, presente e futuro.
ALERTA DE GATILHO: Violência contra a criança, violência contra a mulher, racismo e abandono.
Resenha
Kléber, um menino de apenas nove anos, já sofreu tanto em sua curta vida que não aguenta mais. Forçado a ir aos cultos com os pais, não entende toda a hipocrisia das pessoas no lugar. Todos os seus pedidos ao “papai do céu” foram negados, não sabia se realmente existia um deus que tivesse compaixão pelos sofredores como ele. Sua família só era feliz enquanto estavam na igreja, diante dos olhares de todos, em casa, as coisas eram muito diferentes.

Acostumado com a tortura que seguiria quando chegassem em casa, o menino já esperava qual seria a desculpa usada pela mãe para lhe dar mais uma surra. Seu único amigo era Fred, um cachorro fiel que estava sempre ao seu lado. Como de costume, a mãe encontrou um motivo para brigar com Kléber. No entanto, dessa vez, a raiva acumulada pelo marido ter ido beber com os amigos foi deixando-a cada vez mais cega. Espancou o filho sem medir força, sem parar, arrancando sangue, quase matando aquele que deveria proteger. Sem pensar em mais nada que não fosse sair vivo dali, Kléber fugiu sem nem olhar para trás. Correu o mais rápido que suas pernas permitiram.
Maria, uma prostituta que durante toda a sua vida só conhecera a dor, estava mais uma vez diante de uma situação difícil que a obrigara a agir por impulso. Infelizmente, caíra nas graças de um policial perigoso que gostava de ser violento com as garotas do bordel e estava com seus dias contados, sentia isso e precisava fazer algo. Mas não teve tempo de planejar nada, o policial a levou para o quarto e começou a violência.

Quase sem esperanças, Maria conseguiu se rebelar se livrar por breves instantes de seu agressor, tempo suficiente para correr, sendo perseguida por ele, que esbravejava. Se a alcançasse, a mataria,era certo, então ela não poderia parar. Enquanto corria, ouvia que não retornasse ao bordel seria morta, e mais, quem a ajudasse teria o mesmo fim.  Nua, sem dinheiro, sem ter para onde ir, continua fugindo até não aguentar mais.
Kléber, tão inocente, achou que poderia se abrigar da chuva em um prédio chique, mas o porteiro correu atrás dele, queria matar esse trombadinha, já tinha visto muitos do seu tipo, tiraria um das ruas. É quando Maria avista essa covardia e não fica parada, parte em socorro do menino. A partir de então, cuida dele como se fosse seu próprio filho. Passam frio e fome, não têm onde dormir, com os dias se avançando as coisas vão ficando piores. Como poderá cuidar dele desse jeito?

Eliseu, um senhor abandonado pela família num asilo, não conseguia mais ficar parado ali esperando pela morte. No dia do seu aniversário, teve um ato de rebeldia e fugiu, iria procurar pelo filho. Mas esqueceu-se de que o corpo já não era mais o mesmo. Sozinho pelas ruas, sem ninguém para ajudar, encontrou apoio em dois mendigos fedidos e esfomeados. Por mais que os tivesse maltratado, os dois ofereceram compaixão e piedade. Eram três pessoas sofridas que queriam um futuro sem dor.
Minha impressão
Três dores é um drama nacional carregado com muitas críticas sociais e com uma narrativa reflexiva, na obra nós encontramos três personagens tão diferentes entre si que são unidos pela dor. Um menino sofrendo vi0lênc1a doméstica; uma pr0st1tut4 fugindo de um policial que quer m4tá-l4; um idoso abandonado pela família. Kléber, Maria e Eliseu descobrem apoio e consolo um no outro ao se encontrarem pelas ruas do Rio de Janeiro.

Maria salvou Kléber de uma situação que ele m0rr3ria se ninguém intervisse, ela não pensou em nada a não ser ajudar aquele menino que não conhecia. Kléber havia fugido de casa, estava todo machucado e exausto, quando Maria o encontrou e o ajudou, ele sentiu que poderia confiar nela e conseguiu descansar. Nascia ali um amor genuíno de um pelo outro. Passariam por momentos complicados, sofreriam, e estariam juntos, um lutando pelo outro.

Eliseu era um senhor pr3conc3i7uoso, acreditava que pessoas que moravam na rua tinham escolha e vivam ali por serem preguiçosos, que todos eram l4drõ3s. A primeira vez que encontrou os dois, foi extremamente rude, porém, pouco depois estaria ao lado deles, precisando da ajuda de dois mendigos que foram os únicos com piedade para lhe estender a mão.

Que livro intenso! É doloroso acompanhar a história desses três e ver como as coisas vão se encaixando. Passei toda a leitura torcendo para que eles ficassem bem. Maria é uma mulher forte, foi quem mais mexeu comigo por sua vontade de ajudar o próximo mesmo estando sem condições, não tinha nada,nenhum bem material, nenhuma casa ou abrigo, não tinha comida, mas tinha um coração enorme.

O final abriu um buraco em meu coração com uma grande revelação. Eu não estava preparada para aquilo e ainda não superei. Três Dores possui mensagens impactantes, é impossível ler e não se sensibilizar. Aborda temas pesados, detalha o s0frimen7o dos personagens e nos faz refletir. É uma leitura que recomendo demais!

Minha nota para o livro

Nenhum comentário:

Postar um comentário