[Resenha] Adeus, Gana

30 de julho de 2021

Título: Adeus, Gana
Autor: Taiye Selasi
Editora: Tusquets
Páginas: 352
Ano: 2021
*Cortesia da editora
Sinopse: Aclamado romance de Taiye Selasi - uma das maiores vozes da literatura contemporânea - Adeus, Gana é ao mesmo tempo o retrato de uma família marcada pela separação de seus caminhos e uma viagem pela importância que nossas origens têm na formação de nosso caráter.
Kweku Sai, renomado cirurgião formado nos Estados Unidos e autoexilado em Accra, capital de Gana, está morto. A notícia da morte de Kweku chega aos mais diversos cantos do mundo, aproximando os laços quase perdidos de uma família que ele abandonara anos atrás.
Costurando com maestria uma narrativa entre diferentes tempos e lugares, Taiye Selasi fala de como certas verdades são capazes de curar as feridas mais escondidas, em um romance sobre o poder de transformação que há no amor incondicional.

Resenha
Uma família marcada por sentimentos, uma família despedaçada que – ao longo dos anos – sobreviveu juntando os caquinhos internos em cada um, mas espalhando-se pelo mundo. Uma família abandonada, obrigada a se reinventar. Momentos difíceis, lembranças dolorosas, um passado que tentaram apagar ao reescreverem suas memórias excluindo delas aquela figura que os deixou para trás e os quebrou.

Kweku é um homem de origem modesta, tornou-se cirurgião e cresceu vendo tragédias ao seu redor, tantas perdas e dores que o sofrimento é algo corriqueiro em sua vida. Sua própria história é cheia de adversidades que o encheram de angústias com o passar do tempo. Nada justifica suas atitudes em relação à família, mas ele também é um homem amargurado. Ou melhor, era. Kweku sofreu um infarto e morreu, e a morte do pai é o que faz os integrantes dessa família fragmentada relembrarem...
No passado, algo aconteceu que fez Kweku fugir de casa e largar esposa e filhos. Ele não conseguia encarar a situação, não via alternativas, sua única opção era a fuga, era abandonar os filhos pequenos, largar a mulher sozinha para criar de quatro crianças. Um ato de crueldade, um abandono que partiu a família para sempre e ela nunca mais foi a mesma. A fuga do pai deixou marcas irreversíveis em cada um deles, os filas crianças e a mãe tiveram de aprender a lidar com a nova vida e a conviver com suas cicatrizes.

Com a partida de Kweku, Fola se viu sozinha com os filhos, o que fazer? Por que o marido a havia abandonado? O que seria dela e das crianças dali em diante? Em meio a tantas perguntas, Fola teve de descobrir um jeito de continuar. Quatro filhos sem um pai, mas que têm uma mãe que descobriria como ser forte por eles, para eles. Ainda que, ao crescerem, possam questionar sua criação, mas se não fosse a mãe, eles nunca teriam uma chance.
Nos momentos anteriores à morte, Kweku começa a reviver seu passado, revisitar cantos da memória que se mantiveram na sombra durante todos esses anos. Ele, como excelente cirurgião, tendo o conhecimento para tal, poderia ter evitado o que aconteceu minutos depois, poderia ter chamado ajuda e chegado ao hospital para receber atendimento, mas o que viu em sua mente para que não tivesse expressado nenhuma reação? O que o fez desistir e aceitar o destino sem lutar para viver? São as perguntas que os filhos se fazem.

E Kweku morreu do lado de fora da casa sem suas pantufas, ele nunca deixava seus pés descalços, nunca permitia que vissem as solas de seus pés. Tem um motivo para isso, ele não poderia permitir que vissem suas marcas, ninguém podia saber. Então, quando ele morreu sem as pantufas e sem tentar pedir socorro ao sentir os sintomas do infarto, a família desconfia de que alguma coisa pudesse estar errada.
Minha impressão
Adeus, Gana é uma obra intensa que nos leva para dentro da história de uma família completamente destruída e vamos – através de lembranças – entender como as coisas chegaram ao ponto em que estão. Cada um dos filhos teve de crescer com a sombra do abandono do pai à espreita, foi algo tão marcante para eles que nenhum dos quatro irmãos jamais se recuperou e ainda hoje sofrem as consequências do que o pai fez.

O pai era um renomado cirurgião, cheio de arrependimentos, incertezas e desolações, que carregava a dor de ter abandonado a família e tê-la feito se partir. Mas, se por um lado vemos Kewku fugir em resposta aos problemas, por outro lado vemos Fola se reerguer das cinzas após o marido abandonar a família. Os quatro filhos do casal reagiram de uma maneira diferente em relação ao abandono, mas todos sofreram profundamente.

A autora, em seu primeiro romance, nos entrega personagens complexos e muito bem explorados, somos capazes de sentir suas dores, de entender seus dilemas e querermos fazer algo para ajudá-los. Com temas difíceis de serem abordados, Taiye Selasi  traz um drama familiar bastante pesado e que faz o leitor refletir muito ao longo da leitura.

O livro começa pelo que seria o fim talvez, com a morte do pai. A partir de então, podemos ver trechos do passado e acompanhar um pouco de cada um deles até o momento em que precisam lidar com a morte daquele homem que já os havia deixado muitos anos antes.

Adeus, Gana foi uma leitura que demorou um pouco para me envolver, mas que depois de algumas páginas eu já me via tão imersa nas dores dessa família que não conseguia mais parar de ler. Um livro forte, com cenas duras, mas que é uma ótima leitura. 

Minha nota para o livro

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